sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

21. Sonhos ou Máquina de Sonhos


(Ou “Devaneios”, simplesmente. Você decide.)

Desde muito cedo, os sonhos sempre estiveram presentes no interior da minha caixa particular, a caixa branca. É muito comum para meninos terem um sonho sempre disponível em mãos e em mente, e os meus sempre me levaram a rascunhar o mundo ideal que eu tanto queria para mim e para as pessoas ao meu redor. Escrevia mensagens um pouco distantes da compreensão de quem as lesse, como códigos secretos montando uma mensagem que somente eu conseguia decodificar e decifrar; e que, pensando bem, não eram feitos inteiramente de doçura ou das coisas mais belas, esses códigos, e poderiam ser interpretados como os meus primeiros sinais de loucura naqueles dias. Tenho uma mente inquieta e muito caótica, como um quarto repleto de objetos espalhados por todos os lados. Tudo o que eu tento fazer é deixar a bagunça um pouco mais organizada, apenas.
Meus outros sonhos, aqueles que surgem durante o sono, esses já são mais baseados na realidade objetiva. Poucas foram as vezes em que sonhei em voar e cair, em cair e voar outra vez, como se os sonhos fossem mais como tentativas de armazenar e tentar compreender o mundo do lado de fora – ou aquilo que interpreto como sendo o mundo natural e suas nuances um tanto incompreensíveis às vezes – e menos sobre ilusões fabricadas pela mente. Na maioria das vezes, eu sei quando estou dentro de um sonho e ainda consigo manipulá-lo com as minhas escolhas, como se esses sonhos fossem apenas uma extensão do cotidiano. Os outros, os sonhos mais imersivos, esses ocorrem justamente quando estou acordado, alimentando-me de meus pensamentos lúdicos e de seus devidos contrapontos, os pensamentos mais obscuros, para que exista algum equilíbrio.
Penso na realidade como sendo feita de fatos e também de interpretações. É feita de percepções e também de perspectivas. Muitas vezes, custa-me muito (ter de) saber diferenciar o fato da interpretação. Isso faz de mim um idealista.
“Mas eu não sou o único.”*
Sonhos, eles são feitos daquilo que nos move.
Somos feitos de desejos e de angústias.
De paixões e ambições.
Estudiosos e artistas tentam explicar os mecanismos da grande Máquina de Sonhos de diferentes maneiras. Podem ser abstratos e/ou concretos. Tudo depende de como os enxergamos. Para alguns, é uma simples questão de fé; para outros, é como um grande jogo de probabilidades, sobretudo quando falamos daqueles sonhos feitos de desejos que desesperadamente clamam por um mínimo de saciedade.
Sim, os sonhos que movem o homem.
Podem ser como aquilo que está ao alcance das mãos, nossas e as de outros com aspirações semelhantes, como também podem ser semelhantes à fumaça que tentamos pegar com essas mesmas mãos, e que os ventos levam embora com um sopro. Puff!
Nossos sonhos nos mostram o que queremos do futuro.
Também nos mostram o que tudo pode vir a ser. Ou não ser.
Premonições.
E se nos revelam um futuro que já está acontecendo?
Sonhamos e acordamos e diariamente sonhamos acordados.
Corremos na direção do que é supostamente possível e fugimos do (que nos dizem ser) impossível. Eu gosto de pensar assim: se não posso voar com as asas que me foram naturalmente negadas, eu preciso buscar aquilo que me aproxime um pouco da verdadeira experiência. Voo entre as asas de um avião e também com as asas da imaginação. O concreto e o abstrato, eles podem coexistir, bastando você olhar para si de uma maneira mais completa.
Dizem que sonhar é um luxo pertencente aos jovens, mas não acredito muito nisso. Também dizem que velhos não sonham, ou que, se sonham, eles sempre esquecem do que viram ou se esforçam para isso.
Dizem que os velhos sonham pelos jovens.
Às vezes, nossos sonhos nos mostram tudo o que tivemos de abandonar.
Eu não sei.
Se estou vivo e respiro, eu ainda posso e quero poder sonhar.
Eu apenas não quero que tentem me despertar num estalar de dedos colocados diante de meus olhos. Seria muita crueldade. Minhas mãos, minhas pernas, meu corpo se movimentam e agem, ainda que eu esteja sonhando de olhos abertos e buscando aos poucos o que tanto almejo. Meu cérebro continua em funcionamento.
Sonhos são terapêuticos, eles nos rejuvenescem e mantêm o desejo vivo.
Afinal, somos todos sonhos ambulantes, e seguimos nossos rumos através de uma infinidade de possibilidades. E se um dia a minha máquina de sonhos se quebrar, farei o que for possível e construirei uma nova.



*“But I'm not the only one.” – John Lennon, em “Imagine”.

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