sexta-feira, 27 de maio de 2016

34. Sequelados


Mas é claro que eu amo finais felizes!
Quem, entre seres julgados normais, esperaria pelo pior ao fim de uma sucessão de desventuras?
Todos querem ser recompensados depois de tudo – depois das lágrimas e dos breves sorrisos de descontração em momentos de apuro. Desejamos respirar aliviados depois de uma longa fuga ou batalha. Desejamos sentir a doce sensação de dever cumprido.
Sim, eu também sei apreciar um bom desfecho.
Afinal, fomos criados como encarnações de personagens de histórias escritas para terem finais felizes. Crescemos motivados pela crença de que tudo ficaria bem; mesmo os coadjuvantes e aqueles outros que foram deixados de lado, ou sumariamente arrancados das páginas, mesmo eles sonham ou sonharam com o sorriso nos lábios e com o brilho de triunfo que teriam nos olhos quando o jogo virasse, quando, então, seriam recebidos com flores e aplausos, e não mais vaiados.
Era uma vez um garotinho que acreditava em finais felizes. Criado por fábulas e desenhos animados, animais falantes e com mania de cantoria, dançarinos, príncipes e princesas, o garotinho – quando este já não era mais um garotinho – ainda queria acreditar que depois conheceria a moral de toda esta história.
De sua estranha história.
Ninguém avisou que sua lúdica infância daria lugar a uma vida adulta repleta de coisas chatas, de frustrações, de um desencantamento crônico. Monotonia. Quando, enfim, descobriu, não era exatamente tarde, ainda que o Coelho Branco pudesse discordar, mas também não era mais tão cedo, e o garotinho amadureceu ou apodreceu depressa. De garotinho inocente, ainda que inteligente, ele se transformou em um jovem confuso e ligeiramente amargurado. Descobriu que não era um dos favoritos, ainda que o bajulassem.
Mas ele ainda acreditava que tudo seria diferente no futuro.
Ele ainda queria acreditar.
Sabe, esta história não é diferente de tantas outras que lemos ou escutamos por aí. Quem não quer acreditar que, assim como os personagens das fábulas e dos contos de fada, viveremos felizes para sempre?
Nem mesmo nos interessamos em saber o que vem depois. Não é mais de nosso interesse a vida que a princesa levará ao lado do príncipe entre as paredes de seu castelo de morango com chantilly, mas sabemos que, apesar de todo o nosso apreço pela felicidade perpétua, a nova vida que ela terá será apenas uma variação mais aborrecida de sua história anterior. Em vez de dragões e feitiços, a princesa agora enfrentaria uma longa vida matrimonial.
É a vida.
Nossas histórias dificilmente terminam no auge, quando tudo valia a pena, quando ainda éramos ou queríamos ser heróis. Não é sempre que vivemos felizes para sempre. Terminamos, na melhor das hipóteses, deitados sob lençóis encardidos. Esperando. Conformados com o nosso destino final.
A vida não segue fiel à ficção.
A vida quebra todas as nossas ilusões, uma por uma.
A vida nos fere e nos trai.
Somente as marcas ficam, e mesmo elas se apagam no fim, sumindo com a nossa carne e com quem fomos. Somente as marcas que deixamos em quem ainda seguiu com a própria história ainda valem alguma coisa.
Mas, até lá, ainda teremos alguma vida pela frente.
Teremos que lidar com as muitas sequelas acumuladas ao longo do percurso. Somos um mundo de sequelados incuráveis, vagando pela existência em busca de uma compensação absoluta que não teremos aqui. Irreversível, mesmo com o fiapo de esperança que lentamente nos escapa por entre os dedos.
Olhamos à nossa volta e nos deparamos com hordas de zumbis, de sequelados com expressões apagadas, olhos vazios, posturas de morte em vida, inclinados para a derrota.
E quando olham de volta para nós, eles nos veem como reflexos no espelho. Veem a si mesmos, talvez até numa versão piorada. Mas a sequela maior ainda se encontra na alma, naquilo que não vemos a não ser em nós mesmos.
Como lidar?
É claro que eu amo finais felizes, mas os melhores finais são aqueles acompanhados por sequelas que, em vez de nos matarem lentamente, nos ensinam o melhor modo de seguirmos em frente. Tudo o que aprendemos quando nos permitimos aprender.
O suposto final feliz se torna ainda mais legítimo quando descobrimos que agora conseguiremos lidar melhor com as nossas falhas, com os golpes violentos da vida, com as coisas que anteriormente nos impediam de seguir em frente. Não com o fim absoluto dos infortúnios.
Somos uma legião pertencente ao grande exército de sequelados. Os sobreviventes de nossas desnorteadas existências.


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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Fora da Caixa #3

Bom dia. Boa tarde. Boa noite.

Bem vindos ao Fora da Caixa.

Lembrando: neste espaço eu divulgarei textos e demais materiais de minha autoria que tenho publicado em outros websites/espaços.

Desta vez divulgarei os cinco últimos artigos meus que foram publicados no PORTAL DE FORMAÇÃO E AUTODESENVOLVIMENTO:


11. Ganância ou Razão
Sobre a diferença entre querer o mundo ou ter atitudes mais razoáveis;

12. Cabeça Vazia

Sobre os males causados por uma mente vazia ou mal preenchida;

13. Coisas Simples

Sobre coisas que importam e que podem ser encontradas na simplicidade;

14. Mudanças na Vida
Sobre mudanças que fazemos e sofremos;

15. Pontos de Interrogação
Sobre as dúvidas que nos movem.


Como sempre peço, leia, e, se possível, avalie e comente no respectivo site [em que o texto foi publicado] ou mesmo compartilhe/divulgue. Grato!


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