terça-feira, 5 de junho de 2018

56. O Dono da Narrativa



Da escuridão eu vim, para a escuridão eu irei. Uma vez carne, poeira ainda serei. E eu ainda não sei dizer se escrevo mesmo a minha própria história. Seria esta voz dentro de mim ainda a minha própria?
De olhos bem abertos, acordo para mais um sonho de homem desperto. Apesar de todos os surtos e absurdos pelo mundo afora, ainda mantenho meus olhos bem abertos. Não quero correr de mim, para as montanhas; não estou mesmo a fim de fugir de minhas convicções e falsas lembranças.
Sou feito de rabiscos espalhados num papel branco, apenas alguns traços ficando fracos, apagando-se pelos cantos. Não pude nem escolher como eu gostaria de parecer. Ninguém vê, mas por dentro eu ainda sou como gostaria de ser.
É verdade que ninguém pode mesmo me ver? Posso, então, minha própria narrativa escolher? Meu destino seria viver pelo acaso, feito maltrapilho a vagar entre pilhas silenciosas do mais puro descaso? Ser esmagado todos os dias pela mesma rotina, sem razão, nem rima?
Essa coisa que as pessoas chamam de alma, eu não quero vendê-la assim tão barato, nem quero perder minha calma. Não quero perder o controle de minhas mãos, nem das ações que não escolhi tomar. Enquanto penso no próximo passo que darei, em todas as coisas que farei, parece que minha consciência não quer se calar.
Sou eu o dono de minhas escolhas, o imperador em minha própria bolha. Não atendo aos murmúrios estranhos sobre meus ombros, ao anjo e o diabo em meus pensamentos autônomos.
Está tudo escrito em cada um de meus genes. Todas as tendências herdadas de meus antepassados. Que ditam a cor de meus olhos e até meus sabores favoritos de sorvete.  Em minha pele, todo o meu passado.
É verdade que ninguém pode mesmo me ver? Não foi o que os astros me disseram hoje, se estou entendendo bem. Sou a marionete de meus próprios instintos, movido pelas cordas invisíveis de meu signo. Pela entidade gravada na moeda da sorte. Pela Vida, que me conduz à Morte.
Está escrito em minha maldição: não, você não foi amaldiçoado. A roda da fortuna mudará de direção, assim como os ventos da mudança ainda estarão do meu lado. Digo a mim mesmo: sou merecedor de coisas boas por causa de minhas atitudes. Quero acreditar que sou o pai de todas as virtudes.
Quem está no controle de cada um dos meus passos? Sinto-me como que caminhando sobre vidro moído com os meus pés descalços.
Quero acreditar que ainda escrevo minha própria história.
Quero acreditar que sou eu quem escolhe meus percalços.
Que minha vontade não seja ilusória.


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