Nascimento.
Nasce uma nova
estrela.
Ela brilha um pouco
mais quando perto das demais, sem mesmo entender o porquê.
Mas as estrelas
anciãs não a invejam. Seus dias de glória há muito se foram, e
isto é um fato, mas aquelas que antes brilharam nunca perderam de
uma só vez o brilho por elas cultivado.
E com a tradição
de seus ensinamentos ancestrais elas guiam o rumo da Pequenina.
Daquela estrela que
brilha mais.
Mas a Pequenina,
sedenta de conhecimento e faminta de sabedoria, em sua curiosidade
juvenil queria saber o que além delas havia.
Para além de suas
meras vidas.
Então as outras a
proíbem de voar para fora da constelação.
Lá fora, para bem
longe de toda aquela proteção, ela não somente perderia sua vida,
mas também todo o seu brilho. Pequenina seria alvo fácil da ira, do
declínio, além da mais profunda e obscura solidão. Desolação.
Mas quando percebe
nas outras um breve momento de distração, ela aproveita e foge para
bem, bem longe daquela pequena e ridícula constelação sem nome. E,
não! As outras estrelas nem mesmo caem, ainda que na falta de seu
brilho, elas certamente se apagarão.
Ela voa em
liberdade, e nada mais parece acontecer.
As estrelas anciãs
não se preocupam com ela de verdade, mas não querem o seu majestoso
brilho perder. Tudo o que ela pensa é que querem privá-la da
liberdade ao contarem um monte de mentiras, mas mal sabe ela que o
seu ato de desobediência logo mais irá aprisioná-la em sucessivas
armadilhas.
Dois anjos com redes
de caçar borboletas se aproximam de Pequenina.
E a beleza presente
na face dos anjos é anulada e deformada pela mais profunda ira.
Pequenina deve ir
com eles, de volta para o lugar abandonado na constelação.
Não, ela diz que
não. Ela não vai voltar, não.
Ela diz ter pensado
que ninguém a observaria em seu desejo de voar um pouco mais longe.
Os anjos abandonam a
ira por um momento, e por um momento eles riem. Essa petulante
estrelinha quer até mesmo ser como um humano descobrindo novos
horizontes!
Isso é ridículo e
não faz sentido! Porque estrelas não têm voz e muito menos pensam!
Tudo o que uma estrela pode fazer é brilhar. Estrelas não pensam,
nem devem mesmo falar!
Mas, principalmente,
acima dos anjos estrela nenhuma pode triunfar.
Com as redes, os
anjos tentam capturar a estrelinha fugitiva. Mas Pequenina é ágil e
esperta, e para fora do alcance das redes ela consegue deslizar. E
para os anjos, Pequenina não é uma estrelinha ingênua, nem mesmo
inofensiva. E mesmo com várias tentativas em capturá-la, Pequenina
consegue escapar.
Risadas.
Gargalhadas.
Brilho.
Triunfo.
Os anjos, quando
querem, à vontade podem rir. Mas quando o riso é dos outros, não,
pelos anjos ele nunca é aceito. Sob a ira dos anjos, essa estrelinha
brilhante e petulante irá cair!
Queda.
Pequenina é
violentamente lançada à Terra.
Ela cai diretamente
no mar.
E nas profundezas
das águas, ela não é mais especial, mas apenas uma estrela-do-mar
comum. Seu brilho para sempre se foi, quase como se nunca tivesse
existido brilho algum.
Então as ondas, no
passar dos dias e das noites, trazem a mais nova estrela-do-mar à
beira de uma praia que era um misto de rochosa e arenosa.
E ainda que seu
brilho não mais exista, ainda assim ela é a estrela mais bonita
quando perto das demais, mesmo continuando a não entender o porquê.
Mas sem brilho não
há mais vontades, nem mesmo há mais rimas.
Sua vida tornou-se
desconexa e sem rumo em meio às ondas do mar, num vai e vem
aparentemente sem fim.
De volta às
profundezas das águas.
De volta à areia e
às rochas da praia.
De novo e mais uma
vez.
Mas será nas mãos
pálidas de um menino que o rumo da pequena estrela será traçado,
nas linhas e traços daquelas palmas banhadas pela espuma de sal.
Enquanto caminha na
beira do mar de mãos dadas com o pai, em algum momento o menino
sente que algo áspero se encontra no espaço entre seu pé e aquele
solo invariavelmente molhado.
Os olhos de vidro do
menino logo encontram aquela estrela-marinha, que apesar de áspera,
não foge à sua infantil atenção. Ele a pega em suas mãos
espalmadas e a ergue na direção do sol como se fosse um troféu.
O pai, então, diz
que é hora de devolvê-la ao mar. É o lugar onde ela pertence, ele
afirma, mas em sua inocência o menino sente que seria um desperdício
ver algo assim tão bonito ir embora.
Ele a esconde no
bolso de sua bermuda em um momento de distração do pai. Mal sabe
ele que o seu ato de desobediência destruiria o que alguma vez houve
de mais belo no mundo!
Já em casa, o
menino quer guardar a estrela em uma caixa preta forrada com veludo
vermelho. Era a caixa favorita de sua mãe, onde ela costumava
guardar seus brincos e anéis, mas que hoje nada é além de uma
caixa vazia.
Como que colocada em
um altar, a estrela é observada de perto pelo menino, que mal
consegue ter os olhos desviados de seu objeto de adoração. Tudo o
que ele necessita é ter aquela beleza diante de si para vê-la
sempre, sem que fosse preciso dividir isso com os outros.
Então o pai o chama
e interrompe a hipnose.
Ele diz ao filho que
se ainda quisesse ir à loja em tempo de comprarem aquele brinquedo
novo que ele tanto havia pedido, eles deveriam se apressar.
O menino não pensa
duas vezes e fecha a caixa com a tampa.
O menino corre para
fora do quarto. Corre a fim de chegar em tempo para o seu mais novo
objeto de atenção.
E a estrela fica
presa no interior da caixa.
Outra vez abandonada
pela luz.
No escuro, o brilho
já inexistente em Pequenina se intensifica ainda mais com o passar
dos dias.
Sendo esquecida por
tudo e por todos, a desidratada Pequenina se vai para sempre, como
todo o resto. Sem nunca entender o porquê.
De sua janela, outro
menino olha para a bela imensidão estrelada de um céu noturno.
Sonhador, ele vê os
incontáveis pontos luminosos que nunca perderam e nem perderiam o
brilho, apesar de tudo, e apesar de já terem brilhado muito mais.
Fascinado, quer saber como não se desgrudam do céu e simplesmente
caem, sendo tão diferentes das estrelas coladas em papel colorido,
com pontas que se soltam conforme vão envelhecendo.
Tenta imaginar como
é ser uma estrela, viver no alto e brilhar o bastante para que todos
possam ver o seu brilho daqui da Terra por muito, muito tempo.
Sem demora, começa
a nutrir o desejo de experimentar uma glória semelhante à das
estrelas. De ser uma delas. Em seus sonhos infantis, o menino quer ir
além de tudo o que há ao alcance dos olhos humanos.
Sonha alto e de
olhos abertos.
E ele não se vê
despencando do céu.
Neste momento, um
ponto luminoso, até então separado dos outros sabe-se lá há
quanto tempo, despenca do céu sem avisar. Seu brilho forma um rastro
de luz atrás de si, como a cauda de um cometa, e tal visão faz o
menino ser tomado de surpresa.
Pequenina, a pequena
estrela fugaz, provoca fascínio com a visão de sua queda.
Como nas histórias
que o menino ouviu, a estrela cadente atravessa o céu e se destaca
entre as demais estrelas antes de sumir de vista.
De acordo com sua
visão infantil de mundo, o fascinado menino sorri e tenta imaginar
tudo o que a vida teria a oferecer, tudo o que poderia conquistar.
Sonha e alarga o sorriso.
E como acontece nas
histórias, ele fecha os olhos e faz um pedido à estrela.
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Como gosto de ler seus textos. Preciso colocar em dia esta leitura. Férias começando... oportunidade!
ResponderExcluirParabéns, querido!
Grato, Marise! Fique à vontade para a leitura de meus textos.
ExcluirSutil e gostoso de ler..Parabens Rodrigo.
ResponderExcluirGrato pelas palavras, Alvaro!
ExcluirParabéns pelo texto :)
ResponderExcluirGrato! Volte sempre! E um feliz ano novo! :)
ExcluirOla, tudo bem. Um pouco confuso, mas um bom texto, parabéns.
ResponderExcluirGrato!
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