Em
algum lugar do mundo, 24 de dezembro
de 2016.
Querido
Papai Noel,
Eu
sei que você não existe.
Isto,
é claro, não me impede de ainda fazer um pedido especial para esta
noite. Por favor, entenda. Minha própria mãe se esforçou para que
meus olhos se abrissem para uma realidade obvia: não existe magia
neste mundo; não o tipo de magia visto em filmes de fantasia.
Eu
o vi quando era menino. Eu o vi várias vezes, em cada esquina
diferente, e suas muitas aparições eram mágicas e misteriosas.
Esperava ganhar presente, mas minha mãe se aproximou de mim e
publicamente afirmou que você não existe. Foi um grande erro. Eu o
vi andando pelas ruas e distribuindo doces.
“Olha,
mamãe!”, eu disse. Apontando meu dedo na direção do bom
velhinho, eu disse com algum entusiasmo: “Olha! Papai Noel existe,
sim.” E disse mais, para todos ouvirem: “Ele existe, sim! Olha
ele ali!”
Eu
tinha cinco anos.
Minha
mãe. Ela não conseguia esconder seu constrangimento. Meus olhos
brilhavam, e eu não acreditava na mentira contada por ela.
Papai
Noel existe, sim; acontece que, às vezes, ele não tem dinheiro para
nos dar um presente. E ainda querem inventar de fazer o tal do jogo
do amigo secreto, esses adultos que mal se conhecem.
Mas
eu sei que você não existe. Não de verdade. Nem a sua versão
movida a pilhas funciona direito. E você fica ali, em silêncio,
mantido assim em seu lugar atrás do vidro.
De
qualquer modo, você ainda é um dos grandes símbolos desta data, ao
lado do peru de Natal, dos panetones e das uvas passas no arroz. Seus
presentes, então, ainda são esperados com verdadeiro entusiasmo. E
enquanto muitos nem conseguem sonhar com um amanhecer mais tranquilo,
aos poucos nós nos esquecemos do verdadeiro sentido do Natal. Não
que eu esteja reclamando da comida e dos presentes; às vezes eu
mesmo não sou assim tão diferente.
Não
faço um, mas alguns poucos pedidos especiais. Espero que não seja
pedir muito.
Papai
Noel, você poderia trazer novos sonhos e magia ao mundo? Perdi
alguns de meus sonhos ao longo do caminho, e eu não sei mais como
voltar para resgatá-los.
Papai
Noel, você poderia resgatar a dignidade daqueles que são cuspidos
todos os dias? Nem estou falando somente de quem dorme nas calçadas,
mas também daqueles que, mesmo no conforto de suas casas, são
odiados em segredo.
Papai
Noel, você poderia nos lembrar da bondade não apenas neste dia?
Sentimos a solidariedade bater à porta do coração, mas não nos
levantamos enquanto mastigamos. Que a falta de boa vontade não mais
existisse!
Não
fosse pelas tias distantes e suas perguntas inconvenientes sobre
nossas vidas amorosas, eu gostaria que fosse Natal todo dia, se isto
trouxesse a bondade para os demais dias. E que fosse uma bondade
verdadeira, e não a lembrança breve de um dia especial. Que todo o
mundo realmente quisesse o melhor pelo próximo. Estaria o mais
próximo possível ao sentido original do que estamos comemorando.
Estou
pedindo demais?
Eu
sei que você não existe, a não ser quando o vestimos ou assumimos o
seu papel. Não existe um velhinho voando de trenó pelo céu e
descendo chaminés de lares felizes. Até a fantasia de Papai Noel
não sai de graça. Ho, ho, ho!
Mas
eu insisto, e ainda escrevo esta carta.
Espero
não ser velho demais para pedir presentes. Eu sei com toda a certeza
que já não sou mais tão jovem para esperar por eles. Mas não
custa sonhar.
Feliz
Natal!
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