segunda-feira, 18 de novembro de 2013

1. Presença




Sempre quando fecho meus olhos e o manto da escuridão me cobre e aparentemente me protege por completo, eu me pergunto: Onde está você, que prometeu que estaria sempre por perto para vigiar-me em meu sono perturbado por sombras e fantasmas?

Você, é claro, não responde. Porque você não está aqui, nem está lá para me ouvir.

Depois de tanto tempo, a tua falta de presença nunca esteve tão presente. Lembro-me de como costumava rir, de todas as suas broncas, de suas canções. Posso até mesmo ver os movimentos de suas mãos hábeis nas teclas de um piano, mas nenhum som é produzido, não mais. Lembro-me de seu sorriso literalmente amarelo de café e nicotina, embora sincero, de quando eu me sentei para ouvir uma de nossas canções.

Lembro-me de como prometi a mim mesmo que me posicionaria como um vigilante em seu sono repleto de dores físicas e de muito frio, que apenas o calor do meu corpo ou de muita bebida destilada poderiam aliviar.

Éramos duas estrelas ou dois universos distantes, vivendo vidas distintas, longe demais para que um pudesse proteger ao outro, mas não tão distantes um do outro quanto agora.

Posso chorar, gritar, espernear, destruir minha garganta. E ainda assim, sei que você não irá me ouvir.

Posso clamar: Me salve!

Sei que suas mãos pequenas nunca mais me erguerão do solo e tirarão meu rosto da poeira, sei que não mais enxugarão minhas lágrimas, nem os seus braços me cobrirão – quando na verdade, era eu quem costumava cobrir seu corpo frágil em um abraço que poderia durar duas eternidades e mais um pouco.

Lembro de como costumava dizer o meu nome em sussurros, e isso me arrepia ainda hoje. Costumava pensar que somente você seria capaz de entender o que havia na essência do portador deste nome e que somente eu poderia compreender que por baixo de suas vestes negras – das cores do luto – ainda havia um coração pulsando violentamente a favor de uma vida pela qual lutávamos. Havia em você uma vontade de me fazer feliz mesmo com os gestos mais simples, mesmo que isso significasse, às vezes, me deixar zangado por alguns de seus mais impulsivos gestos.

Mais importante, amava lutar com você ao meu lado.

E hoje, um ano, décadas e mais alguns dias depois de a vida ter fugido para fora de seu corpo, lamento tanto que tenha desistido de lutar mesmo antes disso. Você desistiu de lutar para que eu lutasse por mim. Mas sinto informar: não tem funcionado. Tudo o que você me deixou foi um enorme buraco em meu peito, lágrimas e noites mal dormidas.

Eu era uma criança com medo, foi o que você me disse, mas agora o mundo recebe um homem.

Realmente disse a verdade? Apenas o tempo é capaz de me responder a essa questão.

Se eu gritar agora, sei que você não irá me ouvir. Seria como gritar a um gigante de bronze, sem vida nem consciência.

Sem presença.

E meu silêncio é tudo o que lhe devo agora.


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4 comentários:

  1. Excelente texto, muito bom para reflexão.

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    1. Obrigado pelo comentário! Este texto veio de momentos de muito significado emocional para mim. Tive de começar por ele.
      Volte sempre!

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  2. Vc sempre escrevendo muito bem ! Há momentos em que o texto é muito poético,sem versos e rimas mas, ainda assim, repleto das sonoridades e ritmos da poesia. E o sentimento de tristeza é avassalador !

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    1. Grato, Paulo! Aqui vai minha nova página no Face: https://www.facebook.com/rodrigorufinowhitebox/
      Por favor, curta para receber mais novidades.

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