Eu
não sei o que dizer.
As
palavras me fogem como fujo para o abrigo que me esconde do mundo lá fora, das
pessoas sorridentes pelas ruas, dos pesadelos concretos e de olhos abertos que
chamam de realidade. As palavras me fogem. Eu não sei o que dizer.
Olho,
cabisbaixo, para o seu tapete fino, pois se eu olhasse para cima, veria um teto
movendo-se em círculos intermináveis. Sei que do chão não passaria, caso eu
fosse puxado. Nada disso faz sentido? Mostre-me quando, alguma vez, fiz algum
sentido para você.
Mas,
cá estou eu, ainda caçando palavras e tentando encontrar algum sentido no
mundo. Tento traduzir, com minhas próprias palavras, como vejo o mundo e como o
mundo me vê.
Você
me vê como um velho corcunda vestido em pele jovem, uma alma envelhecida que se
cansou de ter de seguir em frente, pois não encontra nem sentido nem recompensa
para a sua longa marcha pelo vale dos invisíveis, dos rostos perdidos na
multidão. Cobram tanto de mim por sonhos que não são os meus. O que eu quero da
vida? O que a vida quer de mim? O que você quer de mim? Pensa que eu não vi
você apontar o dedo e sacudir a cabeça em negação ao olhar para mim? Estou
paranoico?
Quando
penso não ter coisas importantes a dizer, as palavras surgem pegajosas como a
saliva enjoativa que se acumulou na minha boca, enchendo-me de ânsia.
Todo
este tempo, e não ganhei dinheiro com minhas obras criadas pelo meu esgotamento.
Não pertenço ao seu seleto clubinho de pessoas resolvidas e “sem frescura”,
como adora dizer, de pessoas que não perdem tempo com besteiras.
Eu
juro, se vier outra vez com isto, eu juro que vomito no seu tapete. Tire seus
sapatos do caminho.
Então,
olhe para mim. Eu não tenho o que dizer. Não hoje, não amanhã, não na semana
passada, nem na semana que vem.
As
palavras flutuam na minha frente, como se caçoassem do homem que tomou seu primeiro
porre. Eu nem posso beber, mas estou passando por uma longa ressaca nos últimos
tempos, não apenas sentindo o mundo pesar sobre os ombros, como também
pressionando meu crânio com ideias que não são ideias, com palavras desconexas.
Eu
juro ter tentado dar um tempo para o que você julga ser perda de tempo. Tentei
vestir meu melhor visual de cabeça de vento e ser o que você considera normal.
Mas as palavras continuaram a martelar de dentro para fora.
Quer
apostar que vomito em mim mesmo? Encherei meu próprio peito de palavras mal
digeridas, e meus sapatos eu encherei de ideias misturadas com as quais me
empanturrei.
Preciso
pôr tudo para fora.
Não
consigo segurar mais.
Não
quero segurar mais.
Puxo
todo o ar possível para dentro de meus pulmões e me levanto, apoiando-me em
tudo à minha volta para sair daqui, desta sala e deste espelho. Você se afasta
quando me afasto. Hoje, você é como eu penso que as pessoas me veem: um
espectro sem futuro, sem ideias.
Eu
não quero vomitar em meus sapatos. Em seus sapatos. Seria patético. Eu não
quero perder o controle de minhas palavras, do fluxo de ideias que ainda estão
por vir. Sigo em frente, contendo, com toda a força de vontade, as sensações
ruins de não pertencimento, e sento diante da tela branca.
Vomito
e manipulo tudo o que esteve entalado na garganta, como quem brinca com a
comida. Desobstruo o caminho para a saída de meus últimos incômodos e aceito o fato
de que, hoje, este sou eu.
Preciso
tirar do caminho essa sensação ruim de ser um inútil.
Preciso
tirar do caminho a sensação de eu não existir.
Preciso
me tirar de dentro de mim.
Preciso
me sentir e estar de volta.
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