Você dorme no trem londrino e acorda em Tóquio.
Você ouve a cantoria solitária nas ruas de Roma.
Você é recebido de braços abertos pelo Cristo
Redentor.
Ouve aplausos de desconhecidos, dos amigos de seus
amigos, dos pais dos amigos. De seus pais; mas, em seu nervosismo, você não
consegue vê-los na plateia; seus pais nunca foram de sentar na frente. Eles
sorriem muito orgulhosos de sua casinha falante, de sua graminha vestida de
papel crepom, por mais boba que a peça tenha sido. O apoio deles tem todo o
significado do mundo.
Você chora em Paris.
Pensa em tudo o que teve de fazer para chegar aqui.
Todos os idiomas que teve de aprender para se comunicar com o mundo, até com o
mundo daqueles privados de voz. Todas as conquistas doces ou agridoces.
Tu és um nômade.
Tu és um cidadão do mundo.
Onde é melhor chorar? Em seu quarto empoeirado ou
nas ruas de Berlim? Você quer partir para sempre para longe das lembranças que
vivem em você. Tão melhor carregar o peso nos ombros quando se está em Madrid.
Tudo fica mais tolerável quando se pisa na calçada da fama, na cidade das
estrelas.
Você se muda da capital para o litoral.
Do campo para a cidade grande.
Da casinha para o apartamento.
Tudo será diferente a partir de agora. As lembranças
ficarão para trás, serão apenas lembranças e nada mais. Você desembarca e não
vê seus velhos amigos ali, seguindo em frente com você, também. Tudo está
diferente agora.
Entre os rostos desconhecidos, tenta encontrar novos
amigos, mas tem que começar do zero. Precisa explicar, de novo, quem você já
foi, quem você pensa que é. Depois de tanto tempo, e ainda somos forasteiros,
sem nome e significado.
Você está feliz no Canadá. Mas, dentro de você, uma
voz o chama de volta para casa. Para a vida deixada para trás.
Você foge para a Austrália e desfruta de boas férias
no Polo Norte. Volta de caravela para Portugal, em nome dos velhos tempos.
O mundo é tão pequeno e, ao mesmo tempo, tão vasto.
Voa de um lado para o outro, e ainda não aprendeu como se deixar para trás,
como não se trazer nas malas.
Seus amigos e inimigos o aplaudem e o vaiam em
segredo, sem que você saiba quem é quem.
Há algo em você que seus pais não aprovam.
Seu patrão pode apertar sua mão, mas para ele, tudo
o que você fizer ainda não será o suficiente. Nunca.
Você sente tudo isto, enquanto vaga nas ruas de New
York. Enquanto não consegue silenciar aquela voz na cabeça. Enquanto não apaga
as projeções que dizem muito mais sobre como vê a si mesmo.
Ninguém se sente pertencente de verdade a este
mundo. Somos todos invisíveis para ele.
Nós não vemos a quem nos vê.
Ninguém nos conhece tão bem.
Você só queria ser outro alguém, conhecido o
suficiente, mas perdido na multidão o suficiente para não ser reconhecido. Você
só queria ser notado, mas não engolido e invadido. Só queria ouvir os aplausos,
mas não queria ver por quem estava sendo aplaudido. Queria ter o sobrenome
reconhecido, mas também queria que ignorassem seu passado, seu primeiro nome.
Você queria que soubessem tudo sobre você.
O que você quer, afinal?
Ninguém se olha nos olhos. No vagão, todos fogem
para dentro de seus próprios mundos, viajando entre pensamentos e experiências
pessoais.
Próxima estação: Paraíso.
Próxima estação: Liberdade.
Próxima estação: Carandiru.
Corremos de nossa distopia interior para a utopia de
um mundo perfeito, que supostamente nos modificaria de fora para dentro. As
pessoas daqui são diferentes, mas não a gente. Não a gente. Nós sempre vivemos
em fuga. Corremos e crescemos. Nós corremos.
E fugimos...
Fugimos...
E fugimos...
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