sexta-feira, 16 de março de 2018

47. Nos Olhos, a Verdade


Palavras podem sussurrar as mais belas e doces mentiras, mas em seus olhos é possível encontrar a verdade. No ritmo de sua respiração, no tremor de sua carne, nas palavras não pronunciadas, no calor do seu abraço, no modo como nossos olhos se encontram: em tudo o mais posso enxergar as intenções do coração acima das razões da mente.
Posso ver a sinceridade em seus sentimentos.
A vida obstruiu de mim a luz no fim do túnel, e lançou-me, sem rumo, no tabuleiro confuso de um jogo com regras cruéis. O amor se esfriou entre os jogadores, e eu aprendi a guardar o amor para mim, nas profundezas do meu espírito inquieto. Depois de tanto tempo, algum dia eu aprendi a seguir as regras do jogo, mas o meu grande trunfo sempre esteve guardado comigo.
Sob o luar dos amantes, este lobo solitário vagou pelas sombras e eventualmente encontrou fatias de amor, aqui e ali, mas não pôde se entregar outra vez de corpo e alma aos sentimentos que me traziam a dor da distância.
Guardei-me por muito tempo numa caixa, na proteção de minha concha aparentemente indestrutível, sempre tentando seguir em frente, mas sem conseguir sair do lugar. Mãos bondosas tentaram me ajudar, mas as sombras me puxaram e tentaram me partir em pedaços, ocultando-me sob meus próprios pensamentos. Nem a luz do luar poderia me tornar visível aos rostos que brilhavam à minha procura.
Peguei medo da vida, assim como peguei medo da morte. O amor que ainda sentia — e ainda sinto — ainda tem sido meu guia, para me manter são e salvo, apesar do tempo e dos medos que me consomem. O amor que esteve procurando por seu rosto. Para fora da escuridão.
Cansei de estar cansado de tudo. Cansei de pensar que o amor machuca, quando sei que isto não é verdade; mas não é o que dizem as mais belas canções de amor.
Você quer mesmo tentar? Sou apenas um homem. Seria um enorme clichê dizer que não sou perfeito, mas eu não sou perfeito.  Se tiver certeza de que quer mesmo tentar, escreveremos uma nova história, aquela que já estamos escrevendo desde o primeiro momento em que nos procuramos. Dê-me a sua mão para fugirmos juntos desta frieza que domina o mundo lá fora. Juntos, iremos construir um novo mundo. Um mundo inteiramente nosso.
Minhas palavras podem ser interpretadas com desconfiança, mas em meus olhos poderá ver a verdade.
Costumo temer encontrar os olhos das outras pessoas, mas me atento ao movimento dos lábios e ao que dizem. Ajude-me a olhar em seus olhos, a ver a verdade e o reflexo do luar e do meu rosto sorridente, assim como saberá, em meus olhos, a verdade. Não apenas nos olhos, mas em tudo o mais que as palavras não conseguem expressar com eloquência.
Vamos ouvir nossa própria música, senti-la vibrar dentro da gente, quando nós estivermos juntos, sendo um único ser, e também nos momentos de saudade, seja entre uma visita ou outra, entre uma breve saída ou outra.
Serei eu a luz no fim do túnel em que você também esteve percorrendo, assim como eu, nesses últimos tempos? Você será a minha luz?
Em seus olhos posso enxergar a intensidade de seus sentimentos, nas lágrimas derramadas, no sorriso que aos poucos eu vejo se formar. Você, assim como eu, tem suas inseguranças, mas temos nos permitido. Em nossos desejos, em nossos anseios, em nosso tempo de construção de uma nova história, no conhecimento de nossas virtudes e defeitos, no companheirismo que virá conforme nos permitimos.
Se quiser mesmo tentar, um dia não poderemos mais acordar e dormir sem antes nos preocuparmos um com o outro. Sem nossos olhares se encontrarem e nos dizerem a nossa verdade. Por hoje ainda somos bons amigos, mas quem sabe não seremos melhores amigos até o fim dos tempos? Talvez sejamos mesmo as peças que se completam, aquelas que faltavam em nossos próprios quebra-cabeças complexos.
Tenho tentado, aos poucos, me permitir a perder o medo antecipado de ser outra vez deixado para trás no meio do caminho. Mas eu mesmo já não sou assim mais tão jovem para ter medo de desfrutar de toda a vida que eu ainda posso ter pela frente. Então, como não tentar?
Espero ser mesmo a sua esperança.
E juntos poderemos suspender o tempo, tornando-o nosso. Não mais estaremos perdidos, nem nos sentiremos como que sozinhos neste mundo tão cheio e ao mesmo tempo tão vazio. Poderemos declarar o amor que ainda existe, firme e forte, em nosso peito, mantendo viva a luz que ainda temos dentro de nós.
Em cada beijo, em cada toque macio e deslizar dos dedos pelo rosto, em cada sorriso e lágrima derramada, em cada atitude, em cada olhar diremos: Você é mesmo real.


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2 comentários:

  1. Seus textos revelam sentimentos e emoções muito profundos e sutis. Tudo aquilo que um homem solitário consegue sentir e perceber em si mesmo. Nesses tempos estranhos de comunicação instantânea, urgente e que parece um vício, você consegue se manter íntegro e distante. Isso é uma qualidade rara que você tem. Mas, no fundo dos seus textos sempre muito bem escritos, percebe-se também a necessidade de contato e comunicação, marcas inerentes ao ser humano ! Não dá para se escapar da procura dos afetos, não é mesmo ?

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    1. Grato pelo comentário, Paulo! Exatamente, não dá para se escapar da procura de afetos, pois não somos ilhas isoladas. E olha que toda essa facilidade toda de conexão tenha resultado no efeito oposto ao esperado, distanciando ainda mais as pessoas. Eu ainda acredito nas interações mais íntimas, mais repletas de calor humano; infelizmente, nesta era virou algo um tanto obsoleto, mas vou seguindo na busca pela humanidade.

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