Por onde podemos começar?
Onde fica o início, o meio e o fim?
Peças desarranjadas sobre a mesa, caídas no chão,
escondidas sob o tapete. Um misto de falta de sentido e poeira. Brincadeira
iniciada na infância, levando uma vida inteira.
Imagens cortadas, partes conectadas com o nada. Cão
e gato alados, lembranças perdidas e outras desde sempre guardadas, o fragmento
de um homem e a base de uma casa abandonada. Grande mistério. Enigma sem
solução. Segurando a mão de pai e mãe, que não mais se encontram na multidão.
Mãos e pés, antes pequenos, agora grandes e
maltratados pelo tempo. Os olhos cansados do homem não piscam, enquanto monta o
jogo de sua vida, levando pouco mais de três quartos de um século.
Pessoas solitárias ao seu lado entraram e saíram de
sua porta, deixando-lhe comida e bebida sem que ele se virasse para notá-las. Sua
casca, antes tão bela e agora tão maltratada, sempre escondeu o abismo que ele
sempre quis esconder. Tenta esquecer cada uma de suas mais infelizes falas,
cada palavra que se esforçou para esquecer.
Na imagem ainda incompleta, lindos campos e coelhos
brancos. Flores sem perfume; não há cheiro em suas velhas lembranças. Em meio
ao verde desbotado dos velhos dias, o sangue amargo e invisível de suas antigas
fantasias de vingança. Seus inimigos, que nem existem mais, nem mesmo souberam
que algum dia eles haviam sido amigos.
Quem é este homem que monta um jogo que nunca jogou?
De uma vida não vivida? Quem é este homem amargurado que desejou que o mundo o
recompensasse com flores, amores ou com muita bebida?
Não se sabe onde fica o começo, nem de onde nasceram
seus mais primais anseios de homem moderno, todo o seu medo de ser um homem sem
medo. Toda a sua vontade de ser um homem sério.
Ele nasceu sem nascer, sempre existiu sem existir,
morreu sem ainda ter morrido. Passa seus dias montando o jogo da sua vida, sem
saber quem é ou deixou de ser.
Seu rosto está perdido na multidão de rostos
perdidos, irreconhecíveis como o seu.
Onde estão as peças que faltam?
Cadê a única peça que se perdeu?
Está no coração do homem, do menino que morreu.
Está no peito sem emoção do homem moderno que se
perdeu.
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