Primeiramente, permita-me dizer isto: todos os relacionamentos, sejam os amorosos,
os fraternos ou até mesmo as relações profissionais, eles são
baseados em interesses, e isso não é necessariamente ruim. Os
interesses, sim, esses variam.
Mesmo a tua
necessidade em apenas ter por perto alguém para amar (e que ame
você!), independentemente de quaisquer fatores externos ou
financeiros, isso por si só é um interesse. Ou então a vontade de
ter um ombro amigo no qual você possa molhar com lágrimas de
alegria ou de tristeza. Ou então uma boa interação com seu chefe e
seus colegas de profissão.
Intenções iniciais
movem as interações humanas, ainda que às vezes tais intenções
sejam desconhecidas ou que as interações surjam acidentalmente.
Dito isso, vamos à
reflexão da vez:
Essa é uma
tendência fortíssima que por vezes eu testemunho desde os anos de
1990 em diversos programas de TV: reality shows formadores de
relações amorosas.
Quem não se lembra
das noites de domingo e de programas como “Em Nome do Amor”?
Neste, homens e mulheres que procuravam uma oportunidade de
relacionamento sério com alguém do sexo oposto se inscreviam e eram
submetidos a provas e dinâmicas, tudo com um clima de romance ainda
ligeiramente inocente, ainda que fossem adultos; e o programa, se não
me falha a memória, terminava com uma dança lenta entre os
participantes e depois com um momento em que os pares formados
decidiam se queriam namoro ou amizade, sendo que quando diziam
“namoro”, saíam dali realmente como namorados, ou assim parecia
ser.
Não havia refletido
a respeito por um bom tempo, mas conforme tal tendência vem
aumentando durante os últimos anos com reality shows variados,
incluindo esses de relações amorosas, fico pensando na banalização
dos conceitos de amor e relacionamento, no quão explícitos os
interesses que nunca formaram a verdadeira alma de um relacionamento
têm se tornado, principalmente diante das câmeras de emissoras de
televisão.
Se
nos anos de 1990, Em Nome do Amor apresentava a ideia de que
completos desconhecidos até aquele momento poderiam sair juntos do
programa como se se conhecessem suficientemente para definir que o
outro valia a tentativa de um relacionamento sério, o que vejo hoje
me deprime. E muito.
Entenda,
nunca será a minha intenção vir aqui com moralismos baratos, até
porque todos sabem o que querem para si e como podem tentar conseguir
tal coisa, e também porque o teto é sempre de vidro. Mas eu
gostaria que refletissem um pouco a respeito da seguinte questão:
Pessoas
anônimas se candidatam a uma vaga no “coração” de uma pessoa
anônima (ou não) específica, então os(as) candidatos(as) se
apresentam em um minuto, basicamente contando quais são seus
interesses ou que tipos de atividades gostam de fazer. E quando se
trata de um homem querendo sair com uma entre não sei quantas
mulheres que decidem se ele é aceitável ou não, perceba que entre
piadas e risos, o que fica mais evidente ali são os interesses que
as moçoilas têm no dinheiro ou no tipo de balada frequentada pelo
rapaz; eu sei que nem todas as mulheres no mundo se baseiam nisso,
mas não podemos negar que nesses programas eles fazem questão de
reunir aquelas que fazem esse tipo específico.
E
esses quadros e programas podem variar um pouco entre si, mas seguem
basicamente a mesma fórmula: interesses, interesses, interesses. E
não dos tipos mais profundos, diga-se de passagem, mas não daria
mesmo para esperar algo diferente em programas que possuem o único
propósito de entreter. Isso por si não é um pecado, ainda que não
concordemos com os valores apresentados.
Mas
deixo aqui a seguinte pergunta: eles realmente acreditam que podem
definir um início de relacionamento baseando-se em informações
superficiais de candidatos?
Eu
mesmo me incomodaria se tudo o que soubessem de mim nessa triagem
fosse unicamente a respeito de meus passatempos ou da resposta para aquela
perguntinha querida: “Faz o quê na vida?”
Bom,
até porque dificilmente eu participaria de algo assim; seria
hipocrisia e desespero de minha parte, uma vez que estou questionando
a respeito.
Voltando
ao que apontei no início: sim, todos os relacionamentos são baseados
em interesses; ou melhor dizendo, costumam surgir de intenções
iniciais.
Por
exemplo, algumas pessoas com quem apenas troquei ideias inicialmente
ou que busquei para ter atividades de qualquer natureza juntos, ou mesmo
pessoas com gostos semelhantes aos meus, conforme o nosso convívio
tornava-se mais claro e desenvolvido, todas elas se tornaram muito
importantes e especiais para mim em suas devidas proporções. Neste
ponto, os simples interesses iniciais se tornam apenas mais um
detalhe entre tantos outros valores cultivados em tais amizades.
Entendeu?
Eu
sei, o que vem depois do programa é por conta dos participantes,
assim como na vida é de nossa conta e das pessoas com quem nos
relacionamos tudo o que vier depois de as relações se tornarem
possíveis. Mas no caso dos programas, o meu grande incômodo é com
a apresentação e troca de informações dos seres envolvidos nesta
“triagem televisionada”. Na superficialidade disso.
Sei
que isso dificilmente entreteria, mas eu proporia que fizessem um programa
em que, sim, os candidatos pudessem falar de interesses superficiais,
mas que o programa cedesse um grande espaço para que eles mostrassem
suas essências como pessoas, ainda que a maioria tenha medo de ser
visto como realmente é. Questão de privacidade e que deve ser
respeitada.
Mas
verdade seja dita: nenhum relacionamento torna-se duradouro
baseando-se unicamente naquelas informações iniciais.
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