domingo, 22 de dezembro de 2013

9. Sou Uma Alma Antiga



Sim, eu ainda gosto de ser jovem.
Contudo, sinto uma poderosa maldição tomando a minha juventude dia após dia, que é a sensação de ter chegado tarde demais. Cheguei tarde para muitas coisas.
Não falo somente a respeito de tendências culturais, mas da experiência de vida em sua amplitude, assim como é inevitável a falta sentida de amores que eu poderia ter vivido no frescor de suas existências.
Socialmente, eu me deparo com uma era doente de pura apatia, mesmo com a ilusão provocada pelo som e pela fúria atravessando paredes, mas sem objetivo. E tudo o que resta são meros latidos de pequenos cães atrás de um portão. Entendam, a fúria é latente, mas precisa ser bem canalizada. Bem utilizada.
Esses dias alguém me disse que apesar de muito jovem, sou uma alma antiga. Certamente insere-se aí a perspectiva espírita, que, se não sou adepto, no mínimo respeito ao acrescentar algo a mais nesta vasta pluralidade de visões existentes. E eu acredito que seja possível, mesmo que de uma maneira figurativa.
Sou jovem e da velha guarda. Sou um remanescente espiritual de qualquer tempo esquecido. Não fecho os meus olhos para o futuro, não sou contra o que se entende como progresso, mas sinto que conforme desenvolvemos mais e mais ferramentas e facilidades para a vida cotidiana, mais e mais perdemos a nossa identidade, e parece que cada vez menos temos algo de relevante a dizer ou sentir. Nem todos são assim, é claro. Ainda conseguimos encontrar pessoas que sabem se reconhecer como grãos de areia no tempo, reconhecendo que muitas coisas vieram antes e outras ainda virão, e que por isso mesmo precisam se preocupar em deixar a sua marca.
Sinto-me não sendo levado a sério, mesmo que isso fuja às intenções alheias.
Mas principalmente sinto a minha alma antiga transitando constantemente para além do espaço-tempo, revisitando o que queria ter experimentado em carne e osso, e talvez tornando-me à frente do meu tempo, à época, sem perceber. Hoje sou a cópia da cópia da cópia (e não somos todos?), ainda que tentando soar diferente.
Mas agora estamos todos dopados. O mundo não é perfeito e ainda há muito a ser feito por ele, é verdade, mas foi muito simplificado. Então tornamo-nos dementes. O progresso é lucrativo e, mesmo não sendo um demônio em si, é um meio utilizado para o aprisionamento massivo de nossa fúria interna, de nossa vontade de viver e quebrar barreiras não visíveis a olho nu. Estamos aprisionados em uma grande zona de conforto. O progresso em si não é um pecado, nem fazer uso dele o é, mas estamos equivocados ao pensarmos que nada mais precisamos fazer.
Ainda há muito a ser dito, mas estamos cegos, surdos e mudos. Somos almas perdidas no campo de batalha dos dias atuais, no qual somos bombardeados pela apatia uns dos outros. Ou pela fúria cega de um irmão contra o outro.
Nossa guerra mais importante hoje é espiritual.
Não em um sentido religioso, mas ainda mais amplo. Em quebrarmos a barreira das paredes de nossa mente com a ajuda de nossa fúria interna. Em libertarmos o nossa alma de nossas mais vulgares convicções, daquilo que fecha as portas e janelas da percepção e corta as nossas asas invisíveis. E nem são necessárias as armas físicas para sermos domados e domesticados. Basta apenas essa ilusão de espaço-tempo e de que nada pode ser diferente. Da ilusão que estamos presos em nosso tempo e que devemos nos afundar na mais profunda apatia porque é tudo o que temos.
Deve ser por isso mesmo que sempre tento voar com a minha alma antiga por onde (e quando) mais desejo. Não sem perder o senso de realidade, mas o ampliando. Daí o motivo de escutar músicas antigas, e ouvir, fascinado, histórias de muito antes de meu tempo, para suspirar de saudade de tudo de bom que eu não vivi. Será que um dia eu ainda terei os meus anos dourados?
É como eu sempre digo: simplesmente não tenho culpa de ter nascido tarde.


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3 comentários:

  1. Você escreve muito bem, Rodrigo!
    Lindo texto!

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    Respostas
    1. Muito obrigado mesmo, Marise. E conto sempre com tua presença aqui.
      O primeiro comentário é sempre um marco para um blogueiro. hehehe.

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  2. Esqueci de me identificar... Marise Monteiro

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